terça-feira, 22 de maio de 2012

Vou contar-vos uma história...

Imaginem um mundo onde o possível facilmente se torna em impossível e que um ato, por vezes, pode ser considerado um milagre. Mundo esse em que o imaginário não tem asas e as suas pernas foram arrancadas, fazendo com que os sonhos de cada um fiquem unicamente retidos na sua mente. Neste lugar o pouco que se pode ter é designado lá como muito. Esse tal lugar não é apenas fruto da imaginação mas sim uma dura realidade. Pobreza para muitos pode ter o significado de ter pouco luxo, mas lá é definida por morrer à fome e estar exposto às mais precárias condições de vida. Se o que vivemos hoje é considerado um inferno, esperem para que o povo daquele lugar vos diga o que é estar num sítio inferior ao inferno: África.

Carlos Jacob, um sacerdote missionário de S. João Batista, é considerado para aquelas pessoas um anjo enviado por Deus, seja qual for esse Deus que os sujeitou àquela vida. Este homem dedicou 13 anos da sua vida numa missão – Missão de S. João Batista. Foi responsável por uma escola polivalente com milhares alunos, de lares de alunos, “dirigente” de uma serralharia e uma carpintaria com 10 trabalhadores. Ao mesmo tempo desenvolveu a exploração, até então abandonada” de uma área agrícola estimada em cerca de 600 hectares. O padre Jacob não move céus nem montanhas, mas faz tudo aquilo que está ao seu alcance para proporcionar uma vida digna de se viver às pessoas de Marrere, Moçambique.

Marrere é um local situado em Nampula, Moçambique. País este em que todos os anos surgem relatos de cheias, ciclones, secas, fomes, surtos de cólera, malária, índices elevados de tuberculose e de Sida.

Um dos maiores hospitais da província de Nampula e provavelmente do país, foi construído graças aos missionários portugueses no tempo colonial. Devido à nacionalização e ao abandono do pessoal religioso a missão foi perdendo a sua importância e como consequência disso foi-se degradando. Muitas tentativas foram feitas para reanimar esta missão mas nem todas surtiram efeito. Aquela que teve mais impacto foi a intervenção da Fundação Teresa Regojo com as obras de recuperação do Hospital do Marrere. A par da reconstrução do hospital houve também grandes intervenções: na eletricidade, na rede de água, nas instalações sanitárias, nos esgotos, na recuperação do bloco cirúrgico, no laboratório, no gabinete de apoio nutricional, na cardiologia. Criaram também um serviço de Radiologia e um pavilhão para os doentes de Tuberculose.

Houveram muitos parceiros neste projecto destinado a melhorar a saúde da população, tais como: Associação Portuguesa Raul Follereau, Manos Unidas, Câmara de Concorrenzo em Itália.

Ao nível educacional foi recuperada, recentemente, uma Escola Polivalente e criaram-se lares para que os estudantes pudessem morar, já que as suas casas ficam a quilómetros de distância e isso podia ser um obstáculo para eles à educação. E devido à escola renovada e aos lares verificou-se um aumento de 30% de alunos. Em Janeiro deste mesmo ano, foi-se celebrado um protocolo com o Ministério da Educação no sentido de os docentes serem pagos pelo Estado, o que possibilitou que se fosse baixado o preço das taxas cobradas na matrícula e que o ensino se tornasse mais acessível aos mais pobres.

Ao nível Agro-pecuária também houve novos projectos que irão permitir aproveitar a área agrícola, produzindo os alimentos para os doentes e alunos.

Mas nem sempre é fácil oferecer melhores condições de vida. Até porque a própria missão tem necessidades. Estas podem ser divididas em duas partes: as da estrutura da Missão, que se centram sobretudo na falta de recursos económicos e de pessoal e as necessidades da gente da província fragilizada pela doença, miséria e morte. A falta de meios impossibilita que o Padre Jacob e a sua equipa cheguem a todos. As cheias ou a escassez de água impossibilita o desenvolvimento das culturas, o que provoca bolsas graves de fome. Todos os dias chegam, por exemplo, crianças desnutridas ao Hospital.

Haverá alguma alegria nesta missão? Certamente sim. Os sorrisos das pessoas por saberem que as suas vidas mudarão para melhor, pode encher qualquer coração de alegria. O pouco, para eles, é muito. É o essencial para viverem, o que eles mais desejam poder fazer já que a situação em que se encontravam não pode ser denominada de vida.

O que será então, partindo desta missão, ser missionário? “Não é mais do que traduzir na prática os valores do Evangelho de cuidar dos pobres, dos doentes, dos segregados, dos órfãos... de todos aqueles que não têm voz e vez” (Padre Jacob)

Não é pedido que paremos a nossa vida para dedicá-la aos outros, mas pequenos gestos ou ações às pessoas que precisam e que vemos todos os dias podem fazer a diferença. Talvez não fará para nós, mas para os outros, um insignificante gesto, pode significar o mundo. Se Deus existe ou não, é uma grande questão. Mas é ele que dá fé àquelas humildes pessoas do Marrere a viver mais um dia com alegria. Uma coisa que existe é a realidade. Se estamos cientes disto porque não tiramos do Padre um exemplo a seguir, e mudamos a árdua realidade?



Aline Pontieri Carvalho, 10º C, EMRC

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