Imaginem um mundo
onde o possível facilmente se torna em impossível e que um ato, por vezes, pode
ser considerado um milagre. Mundo esse em que o imaginário não tem asas e as
suas pernas foram arrancadas, fazendo com que os sonhos de cada um fiquem
unicamente retidos na sua mente. Neste lugar o pouco que se pode ter é
designado lá como muito. Esse tal lugar não é apenas fruto da imaginação mas
sim uma dura realidade. Pobreza para muitos pode ter o significado de ter pouco
luxo, mas lá é definida por morrer à fome e estar exposto às mais precárias
condições de vida. Se o que vivemos hoje é considerado um inferno, esperem para
que o povo daquele lugar vos diga o que é estar num sítio inferior ao inferno:
África.
Carlos Jacob, um
sacerdote missionário de S. João Batista, é considerado para aquelas pessoas um
anjo enviado por Deus, seja qual for esse Deus que os sujeitou àquela vida.
Este homem dedicou 13 anos da sua vida numa missão – Missão de S. João Batista.
Foi responsável por uma escola polivalente com milhares alunos, de lares de
alunos, “dirigente” de uma serralharia e uma carpintaria com 10 trabalhadores.
Ao mesmo tempo desenvolveu a exploração, até então abandonada” de uma área
agrícola estimada em cerca de 600 hectares. O padre Jacob não move céus nem
montanhas, mas faz tudo aquilo que está ao seu alcance para proporcionar uma
vida digna de se viver às pessoas de Marrere, Moçambique.
Marrere é um local
situado em Nampula, Moçambique. País este em que todos os anos surgem relatos
de cheias, ciclones, secas, fomes, surtos de cólera, malária, índices elevados
de tuberculose e de Sida.
Um dos maiores
hospitais da província de Nampula e provavelmente do país, foi construído
graças aos missionários portugueses no tempo colonial. Devido à nacionalização
e ao abandono do pessoal religioso a missão foi perdendo a sua importância e
como consequência disso foi-se degradando. Muitas tentativas foram feitas para
reanimar esta missão mas nem todas surtiram efeito. Aquela que teve mais impacto
foi a intervenção da Fundação Teresa Regojo com as obras de recuperação do
Hospital do Marrere. A par da reconstrução do hospital houve também grandes
intervenções: na eletricidade, na rede de água, nas instalações sanitárias, nos
esgotos, na recuperação do bloco cirúrgico, no laboratório, no gabinete de
apoio nutricional, na cardiologia. Criaram também um serviço de Radiologia e um
pavilhão para os doentes de Tuberculose.
Houveram muitos
parceiros neste projecto destinado a melhorar a saúde da população, tais como:
Associação Portuguesa Raul Follereau, Manos Unidas, Câmara de Concorrenzo em
Itália.
Ao nível educacional
foi recuperada, recentemente, uma Escola Polivalente e criaram-se lares para
que os estudantes pudessem morar, já que as suas casas ficam a quilómetros de
distância e isso podia ser um obstáculo para eles à educação. E devido à escola
renovada e aos lares verificou-se um aumento de 30% de alunos. Em Janeiro deste
mesmo ano, foi-se celebrado um protocolo com o Ministério da Educação no sentido
de os docentes serem pagos pelo Estado, o que possibilitou que se fosse baixado
o preço das taxas cobradas na matrícula e que o ensino se tornasse mais
acessível aos mais pobres.
Ao nível
Agro-pecuária também houve novos projectos que irão permitir aproveitar a área
agrícola, produzindo os alimentos para os doentes e alunos.
Mas nem sempre é
fácil oferecer melhores condições de vida. Até porque a própria missão tem
necessidades. Estas podem ser divididas em duas partes: as da estrutura da
Missão, que se centram sobretudo na falta de recursos económicos e de pessoal e
as necessidades da gente da província fragilizada pela doença, miséria e morte.
A falta de meios impossibilita que o Padre Jacob e a sua equipa cheguem a
todos. As cheias ou a escassez de água impossibilita o desenvolvimento das
culturas, o que provoca bolsas graves de fome. Todos os dias chegam, por
exemplo, crianças desnutridas ao Hospital.
Haverá alguma alegria
nesta missão? Certamente sim. Os sorrisos das pessoas por saberem que as suas vidas
mudarão para melhor, pode encher qualquer coração de alegria. O pouco, para
eles, é muito. É o essencial para viverem, o que eles mais desejam poder fazer
já que a situação em que se encontravam não pode ser denominada de vida.
O que será então,
partindo desta missão, ser missionário? “Não é mais do que traduzir na prática
os valores do Evangelho de cuidar dos pobres, dos doentes, dos segregados, dos
órfãos... de todos aqueles que não têm voz e vez” (Padre Jacob)
Não é pedido que
paremos a nossa vida para dedicá-la aos outros, mas pequenos gestos ou ações às
pessoas que precisam e que vemos todos os dias podem fazer a diferença. Talvez
não fará para nós, mas para os outros, um insignificante gesto, pode significar
o mundo. Se Deus existe ou não, é uma grande questão. Mas é ele que dá fé
àquelas humildes pessoas do Marrere a viver mais um dia com alegria. Uma coisa
que existe é a realidade. Se estamos cientes disto porque não tiramos do Padre
um exemplo a seguir, e mudamos a árdua realidade?
Aline Pontieri
Carvalho, 10º C, EMRC